Primeiros
Escritos
Em 1520 escreveu três livros fundamentais mostrando o antagonismo do sistema de
salvação papal e o ensino bíblico: "À Sua Majestade Imperial e à Nobreza
Cristã sobre a Renovação da Vida Cristã",- "Sobre a Escravidão
Babilônica da Igreja" e "Da Liberdade Cristã" ' Alguns de seus
pensamentos-chave aí registrados são estes: - "0 cristão é um livre senhor
sobre todas as coisas e não submisso a ninguém - pela fé"; "o cristão
é servidor de todas as coisas e submisso a todos - pelo amor". "Não
fazem as boas obras um bom cristão, mas um bom cristão faz boas obras".
Excomunhão
A resposta do Papa foi a bula de excomunhão Exsurge Domine. Tinha ainda 60 dias
para retratar-se do que havia escrito e ensinado. Em 03 de janeiro de 1521
esgotou-se o prazo dado na bula, sendo então proferido o anátema definitivo,
pela bula Decet Romanum Pontificem.
Dieta de Worms
Em 1521 reunia-se a primeira Dieta ou Assembléia do império, presidida pelo
jovem imperador Carlos V, eleito em 1520, em sucessão a Maximiliano, para
dirigir o reino "em que o sol não se punha". Lutero, intimado,
compareceu diante da assembléia em 17 e I S de abril de 15 2 1. Perguntado se
renunciava ao que tinha escrito, respondeu: "Não posso, nem quero
retratar-me, a menos que seja convencido do erro por meio da palavra bíblica ou
por outros argumentos claros. Aqui estou; não posso de outra maneira! Que Deus
me ajude. Amém".
Tradução do Novo Testamento
Proscrito pelo imperador, foi posto em segurança pelo duque Frederico, através
de um seqüestro simulado de cavaleiros embuçados, durante sua viagem de retomo,
e escondido no Castelo de Wartburgo, nas proximidades de Eisenach. Sua
principal realização nesse período foi a tradução do Novo Testamento grego para
um alemão fluente de grande aceitação popular. Os primeiros 5 mil exemplares
esgotaram-se em 3 meses. Em cerca de dez anos houve 58 edições. Em 1522, com
risco de vida, reassumiu as funções de professor em Wittenberg. Juntamente com
Felipe Melanchthon (cognominado Praeceptor Germaniae - educador da Alemanha), seu
grande amigo e colaborador, instruiu centenas de estudantes alemães, boêmios,
poloneses, finlandeses, escandinavos.
Guerra dos Camponeses
Marcou o ano de 1525 a Guerra dos Camponeses - uma revolução armada em que os
camponeses, sob federação, reivindicaram mais liberdade aos latifundiários. Em
seus objetivos políticos sociais idealizaram Martinho Lutero como chefe.
Confundiram reivindicações políticas com aspirações religiosas. Lutero, embora
compreendendo suas necessidades, viu-se forçado a distanciar-se do movimento
porque não era política a missão dele. A carnificina, com batalha final em
Frankenhausen, trouxe prejuízos ao movimento da Reforma. Mas esta, a despeito
de todos os abusos praticados em seu nome, se expandia. Lutero procurava
consolidar as igrejas e escolas que haviam aderido à Reforma em território
alemão e países vizinhos. Neste mesmo ano (I 525) casou-se com uma ex-freira,
Catarina de Bora, de cujo casamento lhes nasceram 6 falhos.
Culto e Liturgia
De 1527 a 1529 esteve empenhado na organização da Igreja Evangélica. Compositor
e poeta, compôs trinta e sete hinos. Cabe-lhe a celebridade de popularizar o
Lied eclesiástico. Era também conhecido como o "Rouxinol de
Wittenberg". Traduziu a ordem da missa para o alemão - Deutsche Messe 1526
- a partir do que os cultos passaram a ser celebra. dos na língua do povo, e
não no latim que ninguém entendia.
Os dois Catecismos
Em 1529 redigiu dois manuais de instrução, até hoje em uso nas igrejas
luteranas: "Catecismo Menor" e "Catecismo Maior" Os dois
volumes apresentam, em seis partes, um sumário da doutrina cristã. O primeiro é
escrito, especialmente, para as crianças; o segundo, para os pais.
Justificando, o Reformador afirma: "A lamentável e mísera necessidade
experimentada recentemente, quando também fui visitador, é que me obrigou e
impulsionou a preparar este Catecismo ou doutrina cristã nesta forma breve,
simples e singela. Meu Deus, quanta miséria não vi! O homem comum simplesmente
não sabe nada da doutrina cristã, especialmente nas aldeias". Numa outra
oportunidade afirma: "Eu também sou doutor e pregador, e, na verdade,
tenho de continuar diariamente a ler e estudar, e ainda assim não me saio como
quisera, e devo permanecer criança e aluno do Catecismo".
Somente a Escritura
No mesmo ano realizou-se, no mês de outubro, um encontro entre Ulrico Zwínglio
e Lutero para um debate doutrinário, denominado Colóquio de Marburgo, urna
controvérsia eucarística. O pregador Zwínglio, que vivia na Suíça, também
reconhecera a apostasia da igreja romana, pregai)do a Palavra e testemunhando
contra as indulgências. Diferia, no entanto, da doutrina de Lutero e a
discrepância básica resumia-se na pergunta: Os artigos de fé devem basear-se
exclusivamente na Palavra de Deus ou também na razão humana? Não chegaram a um
acordo, visto que a resposta de Lutero não admitia dúvida: A Escritura, e nada
além dela, é fonte de artigos de fé, como também, mais tarde, a Fórmula de
Concórdia o expressa: "Cremos, ensinamos e confessamos que somente os
escritos proféticos e apostólicos do Antigo e do Novo Testamento são a única
regra e norma segundo a qual devem ser ajuizadas e julgadas igualmente todas as
doutrinas e todos os mestres".
Confissão de Augsburgo
Auxiliou o duque João Frederico a delinear sua estratégia em relação à Dieta de
Augsburgo (l53O), convocada Pelo imperador para superar o cisma- Acompanhou a
redação, por Felipe Melanchthon, duma defesa oficial, que veio a chamar-se
Confissão de Augsburgo.
O documento - a primeira e mais notável das confissões evangélicas - foi lido
em público à assembléia imperial, em nome de príncipes e cidades partidárias da
Reforma, a 25 de junho de 1530. Era Composto o documento de duas partes: uma,
dogmática; outra, apologética. Argumentavam na Confissão que, quanto à
doutrina, continuavam fiéis ao que a igreja vinha ensinando à base das
Escrituras Sagradas, conforme os Credos Apostólico e Niceno; com respeito ao
culto, mantinham os ritos antigos consentâneos ao evangelho, cancelando apenas
aqueles costumes, ritos e cerimônias que obscureciam a glória de Jesus Cristo
como o único Mediador entre Deus e Os homens. Reivindicaram, por conseguinte, o
direito de conviver em Paz com o papa e os bispos no seio da igreja do império.
O imperador, ouvida a Confissão, determinou que os teólogos de Roma elaborassem
a Confutação Católica à confissão de Augsburgo. A 03 de agosto fez-se a leitura
desta. Não terminava ainda a apresentação de confissões religiosas, e Lutero e
Melanchthon responderam à Confutação com a Apologia da Confissão de Augsburgo,
de alto valor teológico, mas da qual a Dieta não quis tomar conhecimento. A
Dieta lhes concedeu o prazo até 15 de abril de 1531 para voltarem ao seio da
igreja romana e exigiu rigoroso cumprimento do Édito de Worms. Embora
desaconselhados por Lutero, constituiu-se em fevereiro de 1531 uma poderosa
agremiação política dos príncipes luteranos, denominada "Lida de
Esmalcalde". Porém, em vista do perigo dos turcos às portas do império, em
Viena, o imperador dependia do auxilio militar dos príncipes evangélicos; por
isso, pela Paz de Nüremberg, para a qual Lutero muito contribuiu, em 1532,
permitiu aos adeptos da Confissão de Augsburgo a persistirem nas suas doutrinas
e concedia-lhes ainda outros privilégios. Essa tolerância seria dada até a
realização de um concílio da igreja.
Tradução do Antigo Testamento
Não houve, assim, apesar dos esforços, uma maneira de restabelecer a unidade na
igreja e no império. Em 1534 Lutero terminava uma tarefa em que havia
trabalhado mais de 10 anos: a tradução do Antigo Testamento para o alemão. No
mesmo ano pode-se publicar, então, a Bíblia completa. Em 1536 Lutero redigiu,
por solicitação do duque João da Saxônia, artigos para serem apresentados num
"Concilio geral livre" convocado pelo Papa. Os Artigos de Esmalcalde,
porém, não chegaram a ser apresentados. Os líderes evangélicos concluíram que o
concilio não seria livre e se negaram a participar do Concílio de Trento (l545
- 1563), que desencadeou a contra-reforma, no pontificado de Paulo III.
Paz de Augsburgo
A Paz de Augsburgo, em 1555, atendeu, de certa forma, aos reclamos dos
evangélicos. Substituiu a tolerância religiosa nestes termos: os príncipes e
cidadãos do império respeitariam a filiaçao religiosa de cada um, e o povo
teria a opção de adotar a confissão religiosa do respectivo domínio ou de
emigrar a território que tivesse a confissão desejada.
Martinho Lutero faleceu aos 62 anos de idade, em 18 de fevereiro de 1546, em
sua cidade natal, Eisleben, depois de solucionar um litígio entre os condes de
Mansfeld. Com grande cortejo fúnebre e ao som de todos os sinos, Lutero foi
sepultado sob as lajes da igreja do Castelo de Wittenberg, onde sempre pregava
o evangelho.