sábado, 22 de junho de 2013

AVENTURAS DE DOIS AMIGOS – PARTE 3

            O Lopes, moreno como um mulato, olhos pretos fosforescentes, palavra fácil e ardente, gesto largo e enérgico, exercia uma espécie de fascinação sobre Rogério, grande menino louro de olhos azuis e infantis, que lhe bebia as palavras, lhe seguia os gestos e lhe escutava maravilhado os raciocínios.
            Foi ao belga que o argentino começou a assediar, em longas conversas, com propostas de fuga em que Rogério perguntava, infantilmente; Para onde iremos depois? Hombre! Exclamava o Paulo Lopes, muito exaltado. Uma vez livres deste inferno, cada um siga para as suas terras!
            Rogério ficava apreensivo. Parecia muito preocupado com o problema do rumo a tomar, depois de abandonar a Legião. Talvez não fosse a sua terra o ponto do globo que mais o seduzisse.
            Um dia, a um canto da cantina, onde a Concha, a cantineira, lhes servia generosamente uns copos de ”vermute” falsificado, Paulo Lopes confidenciou; Temos mais um companheiro para a abalada.
            Rogério lançou-lhe um olhar inquiridor. Paulo Lopes, fez a revelação; O Alexandre está disposto a partir connosco. Tive com ele uma conversa muito séria, sobre o assunto. Está resolvido a acompanhar-nos. Rogério parecia duvidar. Não foi sem certo trabalho que ele se convenceu, acrescentou o argentino. Alexandre afirmava que estava aqui muito bem. Mas teve de concordar comigo que, para levar vida de campónio por umas míseras pesetas, então antes em qualquer parte do mundo, onde a vida do campo renda coisa que se veja, sem a canga da disciplina militar que suportamos aqui. Visto não haver mais guerra, deviam licenciar-nos, pagando integralmente até ao fim do contrato. Não fariam nada de mais, que diabo! Arriscámos a pele, consolidámos o triunfo à Espanha. Agora, que não há perigo, que os marroquinos se foram abaixo, tragam para aí os paisanos, para colonizar isto!
            Então Alexandre decidiu-se a seguir connosco? Inquiriu Rogério, ainda na dúvida. Pois claro que acedeu. Afirmou o argentino. Já te disse; Mostrou-se hesitante, mas acabou por prometer acompanhar-nos. Temos de nos reunir amanhã os três, para afinar-mos os pormenores da fuga.
            Já tenho o meu plano traçado. Com mais umas ideias do Alexandre, que ele as tem sempre boas, a nossa fuga vai ser um êxito, acredita.
            Rogério ficou calado. Nem mesmo o facto de Alexandre, o mais valioso elemento da “Legião”, ter aderido ao empreendimento parecia comovê-lo ou dissidi-lo.
            Creio que, na companhia do Alexandre, nada há a temer – disse o Lopes. É um homem que sabe tudo, que resolve tudo. Vale por um batalhão.
            Sim o Alexandre vale muito – concordou o Rogério.
            Nesse caso, porque não te decides?
            O belga moveu, por momentos, os lábios sem emitir um som. Depois, tomando o fôlego, como se tivesse que proferir uma longa tirada, inquiriu: E para onde vai o Alexandre, depois de abandonar a “Legião”?
            Segue comigo para a Argentina – respondeu o outro – prometi arranjar-lhe um lugar em qualquer empresa do meu pai, em Buenos Aires.
            Hum… - resmungou o Rogério, entre dentes.
            Lopes olhou-o, por instantes. Em seguida, numa inspiração, perguntou: - Queres que te arranje também emprego na Argentina?
            Os olhos azuis do soldado encheram-se de uma grande claridade. A sua maior preocupação, ao que parece, não era o perigo de ser varado a tiro pelos perseguidores, nem as grandes caminhadas por terras desconhecidas – era o local seguro onde acolher-se, depois de abandonar a Legião Estrangeira. Dir-se-ia que aquele menino grande tinha medo de perder-se por esse vasto Mundo. As certezas de um destino, a promessa de um amparo, emprestavam-lhe outo ânimo.
            Mas perguntou ainda, com ar receoso: - E teremos possibilidades de atingir facilmente a Argentina?
            O pior é sair daqui - retorquiu o Lopes – Quando estivermos bastante longe da Legião, em território Inglês, que é o mais seguro, mando um telegrama ao meu pai, pedindo-lhe fundos. O que ele me remeter chegará certamente para fazer-mos a viagem, todos os três.
            Mas é difícil alcançar território inglês – Observou o Rogério – Só se conseguisse-mos atingir Gibraltar. A fuga por esse lado é quase impossível – replicou o argentino. – O caminho é muito exposto e está fortemente vigiado. Lembrei-me de alcançar o Egipto.
            Rogério soltou um assobio fino e murmurou: - É muito longe…
            Mas o Alexandre acha que é o mais seguro – Argumentou o argentino. E acrescentou: - Além disso, já tenho o meu plano para lá chegar. Teremos que atravessar território francês e italiano, onde não nos convém revelar a nossa proveniência, porque corremos o risco de ser entregues aos espanhóis. Mas já estudei o processo de passarmos sem sermos reconhecidos.
            Bueno – disse, por fim, Rogério. Conta comigo. Partirei quando quiseres. Mas não me faltes, depois, com um lugar na Argentina. Não me importo de trabalhar como vaqueiro.
            Paulo Lopes exultou com esta resolução e mandou vir mais uma garrafa de vermute falsificado, que lhes soube melhor que o autentico.
           



Pajovi   Junho  2013

Triunfar sem criticar, é o princípio básico de um líder!

  Se queremos triunfar na vida, não devemos criticar ninguém. Aqueles que criticam os outros são débeis, no entanto aquele que se autocrític...