domingo, 21 de julho de 2013

AVENTURAS DE DOIS AMIGOS – PARTE 4

No dia seguinte era Domingo e, conforme afirmara Paulo Lopes – espécie de agente de ligação daquela pequena conspiração – deviam reunir-se os três para darem os últimos retoques no plano de fuga.
            Tinham a tarde livre e, além disso, haviam pedido dispensa de recolher, o que lhes dava uma apreciável liberdade de acção.
            O argentino conduzira Rogério à cantina, onde, dizia, Alexandre devia juntar-se a eles pelas dezasseis horas. Para o belga era quase uma honra entrar na intimidade do cabo Alexandre, cuja sabedoria o enchia de admiração e de timidez. Ia ombrear com aquele homem misterioso, ser tratado de igual para igual por alguém que, segundo se dizia na Companhia, poderia ser tudo e se deixava ficar modestamente na sombra de um quase anonimato.
            Estava um tempo magnífico, talvez demasiado quente. Mas os soldados estavam habituados ao calor africano.         De quando em quando, um sopro escaldante vinha do deserto, como um hálito de fogueira. Trilhando as ruas de Dar-Riffien, que principiava a tomar forma de cidade, depois de ter sido um aglomerado de barracas e barracões, Paulo Lopes não parava de falar sobre a grande aventura, que os iria arrancar, a eles, homens de acção, à monotonia daquela vida, onde morriam lentamente de tédio.
            Rogério escutava-o, embalado na música daquelas palavras que despertavam na sua alma o aventureiro que, depois de ter procurado o perigo de Marrocos, principiava a adormecer nos ócios da paz. O argentino afirmava que Alexandre também tinha as suas ideias sobre o assunto e, Rogério ia ter ensejo de expor as suas.
            O belga ficou um pouco atrapalhado. Não tinha ideias para dar. Embora Lopes andasse, nos últimos tempos, a incitá-lo à fuga, o certo é que apenas se decidira no dia anterior. Até então, mal pensara nos meios a empregar para pôr em prática um plano daquela natureza. Não queria saber dos planos. Descansava plenamente no Lopes e no Alexandre. Eles tinham imaginação para essas coisas; que as pusessem a trabalhar. Limitar-se-ia a executar o que lhe ordenassem.
            Naquele momento, com tremendo calor de Junho, que o fazia suar por todos os poros, só lhe apetecia uma cerveja bem fresca.
            - E eu bebo outra! – Concordou o argentino, tomando-o pelo braço e arrastando-o para o interior da cantina.
            Com grande surpresa sua, encontraram Alexandre já abancado a um canto, perante um “bock” espumoso. Na sala, havia mais alguns camaradas, mas, como de costume, o misterioso cabo procurava o isolamento.
            O argentino, numa expressão bem meridional, alçou os braços no ar, num espanto.
            - “Hombre”!- Exclamou – Chegaste com uma hora de avanço!
            Alexandre sorriu, estendendo-lhe silenciosamente a mão, que o argentino apertou com violência. Rogério cumprimentou-o, cheio de respeito.
            Abancaram. Uma “Camarera” mais pintada que um palhaço chegou-se ao grupo, na esperança de uma lambarice. – Vamos ver quem é o herói capaz de me pagar um refresco! – Exclamou ela, procurando ajeitar-se para tomar lugar entre Rogério e Paulo. Este teve, porem, um gesto de impaciência e afastou-a. – Desampara-nos a loja! – Pronunciou ele, de sobrolho carregado. – Temos assuntos muito importantes a tratar. – Ah! Não sabia que vocês pertenciam ao Estado-Maior – Replicou a rapariga. – Vão acertar o plano da próxima campanha… - O nosso plano é mais importante do que pensas – tornou o argentino, de mau modo. A “Camarera” afastou-se, resmungando e, foi exibir as suas graças junto do grupo que, no lado oposto, já parecia bem animado, pois tinha a mesa cheia de copos e garrafas. Ma não deixava de deitar olhares desconfiados aos três legionários.
            Sorvidos os primeiros goles de cerveja, logo o Lopes se inclinou para a frente e começou a cochichar sobre o assunto que o obcecava; A deserção.
            Alexandre ouviu em silêncio. Depois dirigindo-se a Rogério, perguntou-lhe: - Que dizes a isto, camarada? O rapaz corou como qualquer donzela, encolheu ligeiramente os ombros e replicou; - Estou disposto a segui-los, para a vida e para a morte… Já dei ontem a minha adesão.
            O outro pareceu ficar contente com aquela resposta e, apoiando-o lentamente com a cabeça, disse; - gosto desse espirito resoluto. Na verdade, a aventura em que nos vamos meter não é brincadeira. Não se trata de assaltar uma “cabila rifenha”. É coisa muito pior.
            Calou-se, com o olhar vago, como se, subitamente o seu pensamento fugisse para muito longe, lá para o Egipto remoto, que o argentino pensava em alcançar com facilidade. Pela maneira como falou, Rogério adivinhou logo nele o chefe, o homem capaz de conduzir a bom termo, aqueles que nele confiassem.
            Lopes começou a expor, entre dentes, pormenores do plano. Fugiriam disfarçados de mouros. Já assegurara três vestimentas brancas e as respectivas babuchas, por umas escassas moedas. O mercador árabe que lhas vendera prestara-se a guardá-las até ao momento em que decidissem utilizá-las. Era um homem recto, podia depositar-se nele um segredo como num túmulo.
            Por ele, ninguém saberia que utilizariam tal disfarce para fugir.



Pajovi   Julho  2013

Triunfar sem criticar, é o princípio básico de um líder!

  Se queremos triunfar na vida, não devemos criticar ninguém. Aqueles que criticam os outros são débeis, no entanto aquele que se autocrític...