Houve alguém que me contou há
pouco tempo o seguinte: Já há uns dois anos que tenho andado
muito estranha. Sabe, tenho estado desanimada, sem vontade de correr atrás dos
meus sonhos, descuidada, sem vontade de sair de casa e até sem desejo de ir à
igreja e orar. Os meus parentes tentam animar-me, mas, geralmente, não
conseguem. Já ouvi alguns deles a dizerem que isso tudo é mania minha, que eu
preciso é de aprender a dar mais valor à minha vida. Isso magoa-me muito, não
tenho sabido lidar com esta questão. Não sei se procure um médico, se peço
orações na igreja, já que alguns dizem que estou com problemas espirituais.
Pelo que já li na Internet os meus sintomas são de depressão. Ajude-me, por
favor.
Essa sua descrição
esconde algo muito comum que ocorre em milhares de lares em todo o mundo. A
sociedade tem estado preparada para lidar com doenças físicas (Pneumonia, Gripes,
Dengue, Câncer, etc.), mas está pouco preparada para lidar com as doenças
emocionais. Se esse é o caso da sua família e de milhares de outras famílias.
Por isso, quero aproveitar esta resposta que vou dar para trazer alguns pontos
importantes sobre a questão da depressão, que todos nós devemos reflectir.
Estou com depressão e dizem que é
capricho.
(1)
Depressão não é capricho. Hoje sabemos que a
depressão é uma doença e como tal deve ser tratada com muito cuidado e da forma
correta por um profissional de saúde reconhecido. Com o conhecimento que temos,
não é mais possível que tratemos uma doença tão grave e com tamanho potencial
destrutivo como um simples capricho ou mesmo mania da pessoa. Qualquer pessoa
que perceba que está estranha, desanimada, sem vontade viver e coisas do tipo,
deve procurar a ajuda de um médico para que ele avalie o caso e possa iniciar o
tratamento.
(2)
A depressão nem sempre está ligada a problemas espirituais. É
muito comum nos meios cristãos associar esses sintomas da pessoa depressiva a
algum pecado grave que a pessoa tenha cometido ou mesmo a possessões
demoníacas. Sabemos que pessoas que estão longe de Deus e envolvidas em pecados
graves podem desenvolver sintomas de depressão, porém, cada caso deve ser
avaliado com carinho. Nem sempre a depressão da pessoa está ligada a causas
espirituais. Pessoas que têm a vida espiritual em dia também podem ficar
depressivas, pois é uma doença que pode estar relacionada em muitos casos a
desregulação hormonal e alterações cerebrais, além de outras causas emocionais,
como a perda de um ente querido, por exemplo. Portanto, é uma doença a ser
tratada também no campo médico. Devemos agir sem preconceitos, procurando ajudar
e apoiar a pessoa para que se livre desse mal seja qual for a causa.
(3)
Tratar depressão com um médico não é falta de fé. Quando
temos alguma febre alta, ou uma indisposição mais grave, a nossa primeira ação
é ir até ao centro médico buscar ajuda. Isso não é falta de fé. É claro que nós
oramos, mas não deixamos de ir até aos recursos que Deus já nos disponibilizou,
os recursos médicos e medicamentosos existentes. Com a depressão é a mesma
coisa. Ela deve ser tratada no campo da oração, da busca da cura em Deus, mas
também usando os recursos médicos que Deus, graciosamente, já nos deu através
da ciência. Isso é totalmente legítimo.
(4)
Tratar a depressão deve mobilizar a família. Interessante
que quando temos, por exemplo, uma gripe, a família se mobiliza. A mãe faz uma
canja de galinha, toma precauções para o descanso do doente, etc. Quando alguém
tem depressão (doença muito mais grave que uma gripe) precisa também, muito
mais, do apoio de quem está ao seu redor (amigos e familiares). E esse apoio
vem com palavras e atitudes positivas. Dizer que a pessoa está com caprichos ou
manias ou usar apenas a crítica não ajuda. O ideal é que a família perceba o
que está a acontecer e se informe, ou com um médico, ou com literaturas
especializadas, sobre como agir positivamente para abençoar a pessoa que passa
pela depressão.
(5)
A depressão também deve ser tratada no campo espiritual. Nós
que somos cristãos cremos que Deus participa ativamente da nossa vida. Por
isso, a depressão, por mexer fortemente com nossa alma, deve ser tratada também
no campo espiritual, seja resolvendo questões espirituais importantes que
atrapalham a pessoa a melhorar da depressão (mágoa, falta de perdão, tristeza,
falta de fé, etc), seja com apoio e aconselhamentos. Quando a pessoa se sente
amada e acolhida, o tratamento faz muito mais efeito. O tratamento médico
aliado ao apoio espiritual gera muito mais curas e melhoras dos quadros
depressivos. Isso já é mais que provado.
(6) E
por fim, creio que quem está com depressão, deve conversar com a sua família sobre
o que sente. Peça-lhes que compreendam, que ajudem a superar esse momento
difícil. Diga-lhes que não é mania nem capricho o que tem passado. Peça ajuda,
não fique sozinha, isolada, pois isso apenas piora o seu quadro depressivo.
Essa é uma força que você precisa fazer para dar início às suas melhoras. É o
começo do seu tratamento. Reconhecer que está doente e pedir ajuda. Com a ajuda
de Deus, e com todos os recursos disponíveis, pode melhorar e pode ser curada
dessa doença.
Deus vos abençoe.
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